"O artista, um contemplativo que passa, atento somente, às manifestações de cor, de harmonia e de beleza, que escapam aos olhos dos outros."
Domingos Rebêlo, num artigo que escreveu sobre os seus tempos de estudante em Paris, in "Açoreano Oriental", 13 de Janeiro de 1946.

quinta-feira, 30 de março de 2017

Correio dos Açores - Edição de 30 de Março de 2017


Ponta Delgada, 27 de março de 2017

No final da passada semana tive que ir à ilha Terceira. O tempo disponível era escasso, e por isso, a caminho do local de almoço, parei o carro na zona do Fanal em Angra do Heroísmo e deparei-me com uma vista fantástica. Para poente vi a costa rendilhada da ilha terceira, desde o Fanal até, se não estou em erro, S. Mateus, conseguindo, simultaneamente, vislumbrar as ilhas de S. Jorge e do Pico. A nascente observava o Monte Brasil. No rabisco que vos mostro hoje, quase que junto a ponta da ilha do Pico com a ponta do Monte Brasil. Mas a distância real não é esta. Resolvi aproximar ambos os polos para, assim, conseguir retratar, na mesma página dupla do caderno, um pequeno vislumbre daquela maravilhosa vista.

sexta-feira, 24 de março de 2017

Correio dos Açores - Edição de 24 de Março de 2017


Ponta Delgada, 21 de março de 2017

Há muito que desejava fazer este rabisco. Não só pela beleza do “in loco” observado, mas sobretudo pelos sentimentos que me assolam quando subo à Barrosa. Querer sentir e imaginar a formação da geografia desta ilha. Experimentar essa transformação provoca uma condição de vulnerabilidade perante uma energia que nenhum de nós é capaz de suster. Seguindo essa linha de pensamento, seria expectável que me sentisse mais seguro no alto, longe do perigo. Mas é precisamente neste topo que me reduzo a uma imensa pequenez e nela consigo esgravatar a humilde e frágil vida humana. E esse sentimento traz-me, ironicamente, mais segurança. 

terça-feira, 21 de março de 2017

Correio dos Açores - Edição de 21 de Março de 2017


Ponta Delgada, 12 de março de 2017

Não sei explicar o que me traz tantas vezes a este local. A sério que não sei! Será o ilhéu de S. Roque, o forno da cal, a maresia? De uma coisa estou certo: sou apaixonado por Ponta Delgada. Nela sinto-me seguro a desenhar. Cidade de Antero, onde a Esperança não conseguiu demovê-lo. Cidade de Domingos, onde a etnografia dos “Emigrantes” perpetua nas nossas gentes. E hoje, mais uma vez, apresento-vos um rabisco desta cidade, com uma miscelânea de cores, feita a lápis aguareláveis, embora tenha optado por não provocar a fusão das cores com uma aguada.

quarta-feira, 8 de março de 2017

Correio dos Açores - Edição de 08 de Março de 2017



Ponta Delgada, 04 de Março de 2017

Poderia começar por criticar o próprio rabisco apresentado, mas não é isso que vou fazer. Ele de si já é tão mau que não merece nenhuma palavra de apreço. Todavia, o aspeto real, do outrora Hotel Monte Palace (hoje monte de desolação), nas Sete Cidades, em modesta opinião, é bem mais aterrador ao vivo do que este que aqui traduzo. Aterrador na imagem que passa; aterrador para aquilo que queremos do turismo; aterrador na consciência de cada micaelense. Bem sei que o capital é pouco e que o estado nem sempre se pode substituir aos privados, mas essa questão, do Monte Palace, é premente. Alteram-se leis à justa medida dos interesses partidários, dos privados, das instituições financeiras, etc, etc… Desde do seu fecho já lá vão 27 anos. É demasiada apatia da classe decisória. Não acham? 

quarta-feira, 1 de março de 2017

Correio dos Açores - Edição de 01 de Março de 2017


Ponta Delgada, 26 de fevereiro de 2017

Sempre que viajo até à Ilha do Faial, mais do que o desejo de ver o Pico completamente descoberto e nítido, o meu ímpeto inicial é ir até ao Vulcão dos Capelinhos. Desta vez não foi possível, uma vez que reuniões profissionais não o permitiram. Não obstante, no final do dia, em conjunto com os meus restantes colaboradores, lá fomos ver o que outrora foi o impetuoso e arrebatador Vulcão dos Capelinhos. Quando aqui chego o que mais me impressiona é o silêncio. Esse mesmo silêncio traz com ele o poder de introspeção que, em mim, conduz sempre para um sentimento de pequenez, de efêmero e de grande volatilidade de todo o ser humano, perante aquilo que é a constante transformação terrestre. Já depois do jantar e, sentado no café Peter, dei cor ao rabisco, entre um gole no gim (o meu lá em casa é bem mais saboroso) e uma pincelada com o que sobrou do café. E assim, às camadas, fui colorindo o rabisco que hoje vos apresento.